Policial

Delegada de Dourados sofre ataques racistas nas redes sociais

Caso foi registrado na Depac e será investigado - Crédito: Clara Medeiros/Arquivo/Dourados News Caso foi registrado na Depac e será investigado - Crédito: Clara Medeiros/Arquivo/Dourados News

A delegada da Polícia Civil de Dourados, Thays Bessa, tem sido alvo de ataques racistas e misóginos nas redes sociais desde que concedeu uma entrevista a um veículo local sobre um caso de homicídio ocorrido na cidade.

Nos comentários feitos em publicações do vídeo, alguns internautas deixaram mensagens carregadas de preconceito, direcionadas à aparência da policial.

Outros comentários seguiram em tom menos ofensivo, porém com expressões depreciativas como “Parece que ela apanhou muito até chegar nesse patamar”, “mas dava para ter penteado o cabelo pela manhã”, “que derrota”, “A pobi precisa de descanso”, “essa menina delegada se não se cuidar vai envelhecer fisicamente muito cedo”.

As mensagens, amplamente compartilhadas, viralizaram nas redes, provocando indignação de diversas entidades e autoridades locais.

Diante dos ataques, Thays Bessa registrou boletim de ocorrência denunciando o caso, que agora é investigado como crime de racismo e misoginia.

Em entrevista ao Dourados News, o presidente do Comafro (Conselho Municipal de Defesa e Desenvolvimento dos Direitos Afro-Brasileiros de Dourados), Ailson do Carmo, que também é policial, afirmou que o episódio representa um ataque à presença de mulheres negras em posições de liderança. 

“O que aconteceu com a delegada não é só com ela. É um fato que afeta toda a população. Ofende a todos, principalmente a população negra, mas é um fato que ofende toda a comunidade”, declarou.

Segundo ele, o Conselho já acionou instituições de defesa dos direitos humanos e está cobrando providências das autoridades.
“Estamos levando essa informação para as autoridades e exigindo que haja uma resposta. O caso da delegada é pedagógico. Se não houver resposta ao caso da delegada, como ficam os cidadãos comuns?”, questionou.

Casos recorrentes

Durante a entrevista, Ailson lembrou que Dourados tem registrado outros episódios de discriminação racial nos últimos meses.

“Recentemente, tivemos um funcionário de uma operadora de telefonia agredido por um cliente no local de trabalho, um professor de capoeira atacado por uma moradora durante atividade social e até ofensas em partidas de futebol. A população negra de Dourados está organizada e o Comafro está motivado para dar resposta a esses casos”, ressaltou.

Nota

O Conselho Municipal de Defesa e Desenvolvimento dos Direitos Afro-Brasileiros de Dourados (Comafro) divulgou uma nota de repúdio, condenando as ofensas e manifestando solidariedade à delegada.

“O Comafro repudia veementemente os ataques racistas e misóginos contra a delegada (...). Comentários criminosos nas redes sociais buscaram desumanizar e ofender não apenas a delegada, mas todas as mulheres negras que ocupam espaços de poder e dignidade”, diz o documento.

A entidade reforçou que “racismo e misoginia são crimes e devem ser combatidos com rigor”.
 

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