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UEMS celebra projetos vencedores do Prêmio Finep de Inovação 2025

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Em cerimônia realizada na última quarta-feira, dia 08 de outubro, em Brasília, a UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) celebrou dois projetos vencedores na Etapa Centro-Oeste da Edição 2025 do Prêmio Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), instância vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Na categoria Deep Tech Startup, a iniciativa “Pantabio” foi a grande vencedora; e na categoria Transformação Digital da Indústria para Ampliar a Produtividade, a “Kerow Soluções em Precisão” obteve vitória sobre as concorrentes.

Nesse contexto, a UEMS alcança destaque nacional sob bandeira da inovação, com o Prêmio Finep, conhecido como o “Oscar da Inovação” no cenário nacional em 2025. A premiação é reconhecida como a mais prestigiada no Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e tem por objetivo evidenciar o impacto positivo do fomento à ciência e tecnologia no Brasil, impulsionando o desenvolvimento socioeconômico e a competitividade do país. A seletiva teve três mil iniciativas contratadas pela Finep nesse período, trezentas destacaram-se nas qualificações iniciais, com 144 aceitando o desafio de competir nos prêmios regionais.

A edição regional reuniu 18 finalistas em áreas como agroindústria sustentável, bioeconomia, saúde, transformação digital, deep tech startups, ambientes de inovação e infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento. Nos últimos dois anos, a Finep destinou mais de R$ 2 bilhões para 300 projetos na região Centro-Oeste, valor quatro vezes maior do que o aplicado entre 2019 e 2022. O resultado, segundo a instituição, reflete a retomada consistente dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação no país.

No âmbito do Mato Grosso do Sul, ambas as iniciativas contaram com incentivo e apoio dentro de programas de fomento tecnológico pelo Governo do Estado de MS, via Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect), por meio dos Editais Centelha II.

UEMS como vitrine da inovação sustentável e produtiva

A iniciativa “Pantabio”, sob coordenação do prof. Dr. Tiago Calves (CEO) em parceria com a profa. Dra. Mercia Celoto, ambos docentes da UEMS/Aquidauana, juntamente aos integrantes Mateus Lopes Gomes (engenheiro agrônomo) e Carlos Eduardo Vieira Lima (graduando de Agronomia) é a primeira startup de biotecnologia focada em soluções biológicas e sustentáveis para a agricultura, trabalhando com fungos especiais chamados Trichoderma, nativos do Pantanal e no Cerrado brasileiro. O projeto foi desenvolvido no Setor de Incubadoras e Empresas Juniores, sob chefia do prof. Dr. Edwaldo Henrique Bazana Barbosa. O órgão é vinculado à Divisão de Extensão (DEX), da Pró-reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários (PROEC).

O pesquisador Tiago Calves explica que a criação da Pantabio surgiu diante da proposta de implementação de um pós-doutorado. "No entanto, foi percebido durante as discussões que havia um potencial de negócio, assunto discutido com a profa. Dra. Mércia, hoje sócia da startup. “Percebemos que a pesquisa poderia se transformar em um modelo de negócio. Começamos então a desenvolver um bioinsumo voltado ao controle de doenças na cultura da soja, especificamente para Mato Grosso do Sul. Posteriormente, identificamos que os fungos Trichoderma, inicialmente aplicados com foco local, poderiam ser utilizados em outras culturas, como eucalipto e milho”, relata Calves. “Além disso, observamos que o fungo melhorava a qualidade do solo e aumentava a produtividade das plantas, induzindo resistência a diversas doenças”.

Sob a perspectiva de inovação em startups, Calves ressalta que tem se fortalecido a criação de empresas a partir da base científica das universidades. “Isso é muito positivo, pois o conhecimento gerado na academia, por meio de pesquisas de mestrado e doutorado, resulta em produtos com maior qualidade, validação tecnológica e alta performance. Essa dinâmica, que se torna realidade dentro da universidade, permite que os alunos tenham contato direto com o empreendedorismo e compreendam a aplicabilidade de suas pesquisas no mercado”, destaca.

Ao avaliar o cenário das Deep Techs no Estado, o docente também comenta a projeção de crescimento, incentivos e o futuro do nicho de tecnologia e inovação no contexto local. “A Pantabio já estabeleceu uma rede de contatos para negociação do bioinsumo. Outra frente derivada da pesquisa é a clínica de identificação de doenças voltada aos produtores. Iniciamos o processo com foco em clínicas de nematologia – algo inédito na região pantaneira - Jardim, Aquidauana e arredores. A atuação das duas clínicas será dividida: uma responsável pela identificação de nematoides e emissão de recomendações, e outra dedicada ao diagnóstico de doenças”, detalha.

Por fim, Calves informa que a Pantabio já estruturou uma rede de soluções para produtores na UEMS e está desenvolvendo um novo bioinsumo para estresses hídricos e salinos. “Utilizamos Spirulinas para o controle desses estresses, como mais um produto da startup. Resumindo, a Pantabio, que começou com controle biológico e identificação de Trichoderma, gerou uma clínica de doenças, outra de nematoides e lançará um produto regional do Pantanal, destinado tanto ao mercado sul-mato-grossense quanto a outros mercados do agronegócio. A tendência, agora, é ganhar escala e expandir, sem deixar de manter a presença na universidade, que tem sido fundamental para o desenvolvimento dessas pesquisas e produtos com aplicação no mercado”, conclui o CEO.

Já o outro projeto vencedor “Kerow Soluções em Precisão”, embora não esteja vinculado diretamente à UEMS por meio do Setor de Incubadoras e Empresas Juniores, também deve ser destacado, pois possui, entre seus integrantes a profissional técnica Dra. Vanessa Aparecida de Moraes Weber, também responsável pela Diretoria de Informática (DINF) da UEMS. O projeto desenvolve soluções tecnológicas para apoiar pecuaristas na biometria de animais de forma inovadora, fácil, apoiada em Visão Computacional e Inteligência Artificial e tem por sócios os pesquisadores Edson Takashi Matsubara, Fabricio de Lima Weber, Pedro Henrique de Moraes e Sandro Mauro Vieira de Moraes.

A Diretora da DINF/UEMS, sócia da startup premiada na categoria Transformação Digital da Indústria para Ampliar a Produtividade, ressalta que “a Kerow surgiu da necessidade de licenciar e transferir para o mercado as pesquisas desenvolvidas na academia na área de Pecuária de Precisão, garantindo que as soluções científicas chegassem efetivamente aos produtores. Ao mesmo tempo, buscamos criar um fluxo de retorno, em que as dores e desafios reais do campo voltassem para a universidade como problemas de pesquisa aplicada. Nesse sentido, as pesquisas da Kerow têm foco em Inteligência Artificial e Visão Computacional, especialmente voltadas à pecuária bovina e suína, permitindo automatizar coletas de dados por imagens para aprimorar o manejo, a gestão e a fiscalização da produção animal”, informa Vanessa.

Ela explica que, entre os principais produtos desenvolvidos pela empresa estão as soluções de Estimativa de Peso, Contagem e Reconhecimento de Bovinos, que utilizam algoritmos de IA embarcados para oferecer dados precisos e em tempo real, mesmo em ambientes com baixa conectividade. Essas tecnologias, portanto, contribuem diretamente para elevar a produtividade, reduzir custos operacionais e fortalecer a sustentabilidade na pecuária moderna.

A servidora e pesquisadora da UEMS avalia que a conquista de ser selecionada pelo Prêmio Finep de Inovação 2025 na Etapa Centro-Oeste é um divisor de águas. “Ser reconhecida pela Finep como transformadora digital da indústria para ampliação da produtividade é extremamente relevante em diversos sentidos. Primeiro, por que representa o reconhecimento da pecuária como uma indústria estratégica para a economia nacional. Segundo, valoriza o investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico nesse setor. Em um momento de tanta especulação sobre o uso da IA, o prêmio reforça a importância da pesquisa aplicada e validada cientificamente, evidenciando a maturidade tecnológica alcançada por uma startup construída com a colaboração de alunos, bolsistas e pesquisadores”.

Vanessa destaca ainda que o prêmio abre portas para que gestores públicos conheçam e apoiem essas soluções, “atraindo investimentos privados, ampliando a visibilidade na mídia e aproximando o produtor rural das tecnologias desenvolvidas para o seu dia a dia. É um reconhecimento que fortalece todo o ecossistema de inovação da região e impulsiona novas oportunidades de crescimento”.

Sobre o cenário atual para as Deep Techs em Mato Grosso do Sul ela defende que o ambiente é bastante promissor. “O prêmio pode ser recente, mas a trajetória é longa e construída sobre muito esforço coletivo. No início, a inovação era vista apenas como a criação de um produto escalável para resolver uma dor de mercado. Já as Deep Techs seguem um caminho inverso: começam pela validação científica de uma hipótese, geralmente voltada à solução de desafios globais, e só depois transformam esse conhecimento em produto para validar no mercado.

No caso de Mato Grosso do Sul, a proximidade entre governo e academia foi essencial para o início desse movimento. A Lei de Inovação, aprovada pela Assembleia Legislativa, também representou um marco ao permitir contratações de soluções tecnológicas locais”. A sócia da Kerow Soluções de Precisão encerra sua avaliação indicando que o novo desafio é avaliar o impacto real dessas tecnologias na vida das pessoas e no fortalecimento da economia regional. “Com esse avanço, o futuro das Deep Techs no Estado é de expansão, consolidação e protagonismo nacional, especialmente em áreas estratégicas como o agronegócio, sustentabilidade e inteligência artificial aplicada”, ressalta Vanessa.

Vencedores por categoria e próximas etapas do Prêmio Finep de Inovação 2025 

- Categoria Deep Tech - “Pantabio - Primeiro biopesticida à base de Trichoderma do Pantanal: desenvolve bioinsumos microbiológicos a partir de microrganismos nativos do Pantanal, com destaque para cepas de Trichoderma altamente resilientes às condições tropicais extremas. A solução promove regeneração de solos, controle biológico e ganhos expressivos de produtividade”, de Tiago Calves Nunes

- Categoria Cadeias Agroindustriais Sustentáveis - “Soluções tecnológicas para o aproveitamento integral do babaçu e pequi: o projeto transforma o babaçu e o pequi em bioinsumos inovadores para as indústrias alimentícia e cosmética, reduzindo o desperdício de 70% para quase zero”, do Instituto Senai de Tecnologia de Alimentos.

- Categoria Infraestrutura de P&D em ICTs - “Fortalecimento da infraestrutura dos Laboratórios de Agricultura Digital e de Purificação de Proteínas e suas Funções Biológicas”, da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

- Categoria “Ambiente de Inovação - “Consolidação e modernização das instalações do Laboratório IFMaker: o projeto moderniza o Laboratório IFMaker do IF goiano, espaço de inovação e prototipagem multidisciplinar, com estações de eletrônica, impressão 3D, robótica, drones e realidade aumentada/virtual”, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia goiano.

- Categoria Transformação digital da indústria para ampliar a produtividade - “Reconhecimento de bovinos através de imagens: solução digital pioneira para a pecuária brasileira, que usa inteligência artificial e visão computacional para identificar e rastrear bovinos de forma automática”, da Kerow Soluções em Precisão.

- Categoria Bioeconomia, Descarbonização, Transição e Segurança Energéticas - “Película fotoluminescente para incremento de eciência energética em módulos fotovoltaicos - o projeto busca incrementar a eciência de conversão de energia em painéis solares fotovoltaicos através da aplicação de películas poliméricas fotoluminescentes dopadas com terras raras”, da Anexo Energia.

- Categoria Complexo econômico industrial da saúde - “Cell4vision: plataforma biológica de células tronco em nanoscaolds biomiméticos para tratamentos regenerativos em oftalmologia”, da Universidade Federal de Goiás.

O prêmio terá novas edições em Florianópolis (23/10, região Sul) e Recife (6/11, região Nordeste). As etapas do Sudeste e Norte ocorreram em setembro, no Rio de Janeiro e em Manaus e a mais recente, em Brasília/DF, com a final da Etapa Centro-Oeste. Os vencedores regionais passarão a disputar a etapa nacional, que ocorrerá em dezembro, no Palácio do Planalto, também em Brasília/DF. Texto com informações do Portal FINEP e da EBC Brasil Comunicação.

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